sábado, 16 de maio de 2015

Filosofia moral: o que é o certo a fazer?

Utilitarismo: seja feliz

O filósofo e pensador político inglês Jeremy Bentham foi chamado de o moderno pai do utilitarismo. Ele defendeu o " princípio da maior felicidade", segundo o qual uma ação é correta se, e somente se, conduz o maior número de pessoas à felicidade maior. Assim, as ações não são julgadas " em si mesmas", mas em termos de suas consequências; por exemplo, um mentira que maximizasse a felicidade seria moralmente boa. Bentham afirmou também a felicidade é apenas prazer e ausência de dor, e que o montante  total de felicidade produzido  por uma ação  é a soma total dos prazeres menos a soma total da dor de todos.
  Comentando essa teoria, John Stuart Mill afirmou que a felicidade é mais complexa do que Bentham pensava. Prazeres e dores não são todos igualmente importantes; há tipos de prazer "superiores" a outros e mais importantes pra a felicidade humana. Se todos comparam dois prazeres e concordam que o primeiro é "mais desejável e valioso" que o segundo, o primeiro é um prazer "superior". Para que um prazer seja mais valioso, as pessoas têm de preferi-lo, ainda que ele traga mais dor.

Critério superior

Desde que nossas necessidades básicas estejam atendidas, pensava Mill, as pessoas ainda preferem o amor a um delicioso jantar. Não é uma questão de quantidade, mas de qualidade do prazer. Felicidade é diferente de contentamento e satisfação. 
  As pessoas muitas vezes se opõem ao utilistarismo argumentando que não podemos prever as consequências de uma ação para saber se ela maximiza a felicidade ou não. Mas podemos responder facilmente que uma ação é correta se podemos esperar, com sensatez, que ela maximize a felicidade. Mill acreditava que temos uma boa ação disso com base nas normas morais que herdamos que que se desenvolveram à medida que as pessoas descobriram que ações tendem a gerar felicidade. Mentir e roubar não o fazem; cumprir promessas e ser bondoso, sim.

"Antes ser um homem insatisfeito que um porco satisfeito."- John Stuart Mill, Sobre o utilistarismo



Para Mill, a felicidade depende , em parte, da qualidade de nossos prazeres . Um homem tem prazeres mais valiosos que um porco. 

Atos de maldade?

Um problema sério do utilitarismo é não excluir nenhum tipo de ação. Se torturar uma criança produz a maior felicidade, então é certo torturá-la. Suponha que um grupo de homens que abusam de crianças busca e tortura apenas abandonadas. Somente as crianças que sofrem dor ( ninguém mais sabe de suas atividades), mas os torturadores obtêm grande felicidade. Como há  mais felicidade torturando-se a criança do que não, a ação é moralmente certa. Ora, isso é claramente inaceitável. 
  Utilitaristas podem responder que é muito provável que alguém descubra, o que deixaria muitas pessoas infelizes. Mas não é o fato de outras pessoas descobrirem que torna a tortura de criança errada. O ato é moralmente mau em si, podemos argumentar.
  Ao que parece, como a felicidade nem sempre é boa, a moral não pode se fundamentar inteiramente na promoção da felicidade. Ademais, como estamos visando apenas maximizar a felicidade, sua distribuição - quem fica feliz e em que medida - é irrelevante. Isso não contribui para a justiça.
O Utilitarismo é muitas vezes acusado de ignorar a questão da justiça. A maior felicidade não envolve necessariamente sua justa distribuição, nem atende às necessidades da minoria vulnerável.


Necessidades individuais

Por fim, o utilitarismo não considera a relação especial que temos com nossas ações e nossas vidas.Na sociedade utilitária, minha felicidade não conta mais que a de qualquer outra pessoa quando considero o que fazer. Obviamente, sou afetado mais vezes e mais profundamente por minhas ações do que outras pessoas - nada mais. As ações que pratico durante minha vida  são apenas um meio de gerar a maior felicidade global. Isso é questionável. Não só ignora a ênfase natural que damos a nosso próprio bem-estar e ao dos que nos são próximos, como torna a moral exigente demais. Cada vez que compro um DVD, por exemplo, poderia ter dado o dinheiro para uma obra de caridade. Isso criaria mais felicidade, pois mais pessoas precisam de comida que eu de música. Mas como haverá sempre pessoas em terrível pobreza, nunca estarei certo ao fazer algo apenas para mim mesmo se tiver mais do que o mínimo necessário para subsistir. 


Gostar de crueldade, como o imperador romano Calígula, é mau- não só porque os outros sofrem, mas porque é errado "em si mesmo".

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A necessidade das leis

O contrato social

A ideia do contrato social tenta responder a questão: por que obedecer ao Estado? Afinal suas leis, impostos e polícia limitam a liberdade individual. Mas considere a alternativa. Sem leis e sem Estado, você poderia fazer o que quisesse. Os outros também poderiam fazer com você o que quisessem. Esse é o "estado de natureza" descrito por Thomas Hobbes, e que vivendo durante guerras civis britânicas, aprendeu em primeira mão como esse cenário podia ser assustador. Sem uma autoridade soberana não pode haver nenhuma segurança, nenhuma paz.
  Podemos entender por que  pessoas quiseram organizar um Estado. Elas concordam em viver sob o domínio da lei por causa dos benefícios a longo prazo desse movimento. Cedem poderes ao estado Estado e perdem algumas liberdades para poder andar nas ruas em segurança. Esse é o contrato: o Estado pode controlar o cidadão enquanto ele estiver protegido por suas leis. John Locke declarou que o estado viola o contrato social com as pessoas quando age com tirania. Um estado que aflige seus cidadãos é como um animal selvagem no " estado de natureza" e não tem direito de mando. Cidadãos podem, então, considerar como seu dever derrubar o Estado.
  Segundo Rousseau, se for genuíno e não baseado em mentiras e opressão, o contrato social não é um mero protetor externo da liberdade negativa, mas a expressão real da vontade racional de toda comunidade (Vontade Geral).

" ...A vida de um homem  num estado de natureza é sórdida, brutal e curta." Hobbes, Leviatã

A ideia do contrato social adverte os soberanos: ou governam para o benefício dos cidadãos ou correm risco de ser derrubados, como Carlos I da Inglaterra. 
 Críticas

Parece improvável, dizem os céticos, que pessoas tenham saído da selva já com  a ideia do contrato social em suas mentes. Contratos implicam a existência de um mercado, não de uma selva. A teoria do contrato social foi criticada como ficção liberal que cultua o mito do indivíduo soberano que aceita livremente a autoridade do Estado. Mas, para ser capaz de fazer tal coisa, a pessoa teria que ser fruto  de um Estado estabelecido, não seu fundador. Os contratos e as pessoas que o firmam são criações sofisticadas. Como disse Hegel, o Estado forma o indivíduo, não vice-versa.
  A melhor resposta a essa crítica pode ser não ver o contrato social como um suposto evento histórico, ou algo que nós como indivíduo  teríamos supostamente assinado. Ao contrário disso, filosófos liberais como John  Rawls declararam que deveriamos vê-lo como uma espécie de experimento teórico - um instrumento para nos ajudar a refletir sobre a utilidade do Estado,e o que nós devemos a ele. Em outras palavras, é o tipo de contrato que nós mesmo redigiríamos, se solicitados, para salvaguardar nossa liberdade ( negativa) numa sociedade justa.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Hume e a revolução do pensamento

O empirista

Provavelmente o maior filósofo a ter escrito na língua inglesa, Hume foi mais conhecido em seu tempo como historiador. No entanto, foi sua abordagem revolucionária de questões epistemológicas que fez dele a figura-chave no Iluminismo, e é por ela que é lembrado hoje.
  Hume tentou descrever a mente humana da mesma maneira  que os fenômenos naturais, encontrando as leis gerais que explicam todos os processos mentais. Seguindo as pegadas empiristas de Locke  e Berkeley, via os sentidos como nossa fonte-chave de conhecimento. Ele dividiu os conteúdos da mente em duas categorias: "impressões", as percepções de que gozamos quando o mundo marca nossos sentidos; e "ideias", as cópias menos vívidas das impressões. As ideias são os conceitos e pensamentos de coisas que não estamos mais experimentando, mas somos capazes de evocar em nossas mentes. O sentido filosófico dessa distinção é insistir que não há nada na mente - nem mesmo o pensamento mais abstrato - que não seja simplesmente sensação transformada.

Ideias simples e complexas

Ideias simples devem vir de impressões simples, mas as complexas podem ser criadas na mente pelo rearranjo de ideias simples. Desse modo, somos capazes de formar conceitos de coisas que não experimentamos, como por exemplo, de um unicórnio. 
  Cabe ressaltar, contudo, que se não pudermos encontrar a origem de uma ideia em impressões simples, ela não pode ser uma ideia genuína. Hume usa isso para desenvolver críticas importantes a conceitos filosóficos como os de eu, Deus, objetos materiais e causação. Porque, se não pudermos descobrir a origem desses conceitos, teremos que repensar o que queremos dizer com eles e os usos que lhes damos.


"A razão é e deve ser apenas  a escrava das paixões, e nunca pode aspirar outro serviço senão servir-lhe e obedecer-lhes" -Tratado da natureza humana

O eu

Para dar um exemplo, Hume afirma que, quando examina sua mente, encontra um fluxo de impressões e ideias, mas nenhuma correspondente a um eu que perdure no tempo. Ele concluiu que o eu não é nada além do fluxo de percepções de que gozamos. Um "eu permanente" não passa de uma ficção produzidas por nossas imaginações. 

Filosofia moral

Segundo Hume, os juízos morais não se baseiam em fatos objetivamente observáveis. Quando dizemos que um ato é moralmente errado, comunicamos o modo como nos sentimos acerca dele. Mas isso não significa que a moralidade seja um assunto totalmente subjetivo. Todos os seres humanos partilham uma natureza comum que nos faz experimentar sentimentos de compaixão por nossos semelhantes, e, como somos programados para senti-los, os juízos morais refletem verdades universalmente aceitas.  


Dorothy surpreende-se com um espantalho falante em O mágico de Oz: " Espantalho: - Eu não tenho um cérebro. Só tenho palha. Dorothy: - Mas como você pode falar, se você não tem cérebro? Espantalho: - Eu não sei… mas também tem tanta gente sem cérebro por aí que fala aos montes… não é?" Se Hume estiver certo, é tão sensato esperar que o mundo comece a se comportar à maneira de Oz quanto que continue como antes.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Deus existe?

Deus deve existir

A tentativa de mostrar que é racional crer em Deus tem uma longa história. Os quatro argumentos discutidos aqui tentam inferir a existência de Deus da ideia de Deus, da existência do Universo, da evidência de que o Universo foi planejado e da experiência religiosa.
  Santo Anselmo afirmou que podemos deduzir a existência de Deus. Apenas pensando sobre o que Deus é, podemos concluir que ele deve existir. Assim:

-Por definição, Deus é um ser tão grande que maior não pode ser concebido.
-Deus pode ser concebido como mera ideia ou como realmente existindo.
-Existir é maior que não existir. Portanto Deus deve existir.

Isso é conhecido como argumento ontológico. 
  Gaulino, um monge do século XI, replicou que esse argumento permite provar que qualquer coisa perfeita deve existir. Por exemplo, posso pensar na ilha perfeita,"tão excelente que melhor não possa existir"; portanto, essa ilha deve existir, porque seria  menos excelente se não existisse. Mas isto é absurdo. É claro que tal ilha não existe. Não se pode inferir a existência de algo da ideia de que esse algo é perfeito. Anselmo estava ciente do problema e respondeu que o argumento ontológico funciona apenas para Deus, porque a relação entre Deus e grandeza ou perfeição é única. 

Deus, o maior

Ilhas não são perfeitas por definição. A perfeição é algo que uma ilha pode ter ou não. Uma ilha imperfeita ainda é uma ilha, porque a perfeição é uma propriedade "acidental", não "essencial" de uma ilha.
Uma propriedade essencial é aquela que algo deve possuir para ser o que é. Em contraposição, Deus tem de ser o maior ser concebível. Por definição, Deus não seria Deus se houvesse algum ser superior a Ele.
Ser maior ser concebível é uma propriedade essencial de Deus. Mas para se qualificar como o maior ser concebível, Deus deve existir.

Existência e perfeição

A resposta de Santo Anselmo não convenceu Tomás de Aquino, para quem a existência não é uma perfeição, algo que se torne um ser maior. Assim, o argumento não mostra que Deus existe. Segundo ele, pode mostrar no máximo que há algum vínculo entre o conceito de Deus e o conceito de existência, porquanto um requer  existência e o outro não. 
  O argumento ontológico apresenta outro problema. Suponha que defino o objeto 1 como algo que é redondo, vermelho e pesa cinco toneladas. Depois, defino o objeto 2 como algo que é redondo, vermelho, pesa cinco toneladas e existe. A única diferença entre os dois é que um existe e o outro não. Posso facilmente imaginar o objeto 1, mas posso imaginar o objeto 2? Obviamente, se não houver o objeto 1, quando tento imaginar o objeto 2 só consigo imaginar o objeto 1. Como a coisa que imagino não existe realmente, ela não pode ser objeto 2. Uma restrição similar aplica-se ao argumento de Anselmo. A primeira premissa afirma que posso conceber "um ser tão grande que maior não pode existir", a saber, Deus. Mas o ser que concebo será  Deus? Não se Deus não existir! Portanto o argumento parece ser uma petição de princípio: pressupõe que Deus existe.

O deus nórdico Thor era conhecido por seu gênio terrível. Mas Deus não é Deus ao menos que seja perfeito - o que desclassifica Thor.

Objeção de Kant

Considera-se que Kant derrotou o argumento ontológico, pelo menos nessa forma, de uma vez por todas. Segundo ele, o argumento supõe erroneamente que a existência é uma propriedade. Mas as coisas não "têm" existência do mesmo modo que "têm" outras propriedades. Considere se a afirmação "Deus existe" é analítica ou sintética*. Segundo Anselmo, deve ser analítica - o conceito de "Deus" contém a ideia de existência, assim "Deus não existe" é uma contradição em termos. Mas, afirma Kant, existência nada acrescenta a um conceito, nem o define. Dizer que algo existe significa apenas que algum objeto corresponde ao conceito.
 Existência, conclui Kant, não é parte de nenhum conceito, nem do de Deus. Portanto, não é verdade que "Deus não existe" tem de ser verdadeiro.

*Uma proposição  é analítica se for verdadeira ou falsa apenas em virtude do significado das palavras. Como "nenhum solteiro é casado" é analitico  , é também a priori. Uma proposição é sintética se não for analítica: é verdadeira ou falsa em virtude não do significado das palavras, mas dos fatos. Assim, por exemplo,"não há avestruzes na Islândia" é sintético.

domingo, 5 de abril de 2015

Razão: segredo para a felicidade

Vivendo de acordo com a natureza

Fundador do estoicismo - filosofia que influenciou o mundo helenístico e depois o Império Romano, incluindo o imperador Marco Aurélio entre seus adeptos -, Zenão de Cítio via o mundo como racionalmente ordenado e afirmava que a paz de espírito é alcançada mediante o controle das paixões. 

" A felicidade é o bom fluir da vida " - Zenão de Cítio

Só sabemos dos ensinamentos de Zenão através dos estoicos posteriores, que ele influenciou. Era materialista e, como Heráclito, via a alma como feita de fogo. O curso da natureza, pensava, era rigidamente determinado, todos os elementos emergindo do fogo e retornando a ele num ciclo sem fim. Panteístas, os estoicos afirmavam que a força criativa suprema do Universo permeia todas as coisas e que o mundo natural é racionalmente ordenado pelo legislador divino. A vida virtuosa está em harmonia com essa ordem natural, por isso deveríamos aceitar o que não podemos mudar, sem nos zangarmos com o destino - ideias que caracterizam o " estoicismo " na imaginação popular. 
  
Zenão admirava Sócrates por sua serenidade diante da morte, sua renomada capacidade de suportar sofrimento físico e sua falta de interesse pelos prazeres mundanos. Por vezes, Zenão é chamado de Apathea, pois ensinava que a indiferença é o caminho para a felicidade. 

Segundo Zenão, não nos deveríamos deixar escravizar por nossas emoções, mas sim ,como o Dr. Spock em Jornada nas estrelas, seguir a via da razão. 

sábado, 4 de abril de 2015

A fundação da moral na razão

A moral kantiana

Immanuel Kant afirma que princípios morais podem ser derivados apenas da razão prática. Sendo assim, pensava ele, podemos explicar as características da moral. Ele a considerava universal: um conjunto de regras que é o mesmo pra todos. Deve ser possível para todos agir sempre moralmente(ainda que seja  muito improvável que o façam). A razão também é universal, a mesma em todos os seres racionais. Moralidade e racionalidade são categóricas; o que é exigido para sermos racionais e morais não muda segundo o que desejamos. E pensamos que a moral se aplica a todos os seres racionais, não apenas ao homem. Ela não se aplica a seres incapazes de fazerem escolhas  racionais, como cães e gatos (animais podem se comportar mal, mas não agem moralmente errado).

"Leis morais têm de se aplicar a todo ser racional como tal." -Fundamentos da metafísica dos costume

Máximas morais

Como animais racionais, afirmou Kant, fazemos escolhas com base em "máximas", a versão kantiana das intenções, nossos princípios pessoais  que corporificam  nossas razões  para fazer algo, como "ter o máximo de diversão possível". Se é possível para todos agir moralmente, e nossas ações baseiam-se em nossas máximas, uma máxima moralmente permissível seria uma que todos pudessem praticar. 
  Suponha que você queira dar um presente a um amigo, mas, como não tem meios para isso, furta-o de uma loja. Sua máxima é algo como:"Roubar algo que quero, se não posso comprar". Isso só poderia ser a coisa certa a fazer se todos pudessem fazê-la. Mas se todos nos apoderássemos de tudo que queremos, a ideia de "possuir" coisas desapareceria.
A tendência de Pinóquio a falsear a verdade é errada. A mentira também é reprovada no teste de universalidade de Kant. Se todos mentissem sempre, de nada adiantaria mentir, porque ninguém nos daria crédito.
Como você não pode furtar algo que não pertença a alguém, é logicamente impossível que todos furtem coisas. Por isso, furtar  o presente é errado, segundo Kant.
  Podemos descobrir novos deveres testando nossas máximas contra o que Kant chamou de imperativo categórico (um imperativo que é uma ordem): "Age somente segundo uma máxima  tal que  possas querer, ao mesmo tempo, ver transformada em lei universal." Kant não afirma que uma ação como furtar é errada porque não gostaríamos das consequências se todos a praticassem. Seu teste é se poderíamos escolher ("querer") que nossa máxima fosse uma lei universal. Trata-se do que é possível escolher, não do que gostaríamos de escolher. Escolher comportar-se de uma maneira que é impossível que todos adotem, é ao mesmo tempo , imoral e irracional, e deveria ser rejeitado. Kant prescreveu também:" Age de tal modo que sempre trates a humanidade, seja na tua própria pessoa ou na de qualquer outro, nunca simplesmente como um meio, mas sempre como também um fim." Ao usar a palavra "humanidade", ele enfatiza nossa capacidade de determinar  racionalmente que fins adotar e perseguir. A capacidade de fazer escolhas livres e racionais dá dignidade aos seres humanos.
  Tratar a humanidade de alguém como mero meio, e não também como um fim, é tratar a pessoa de um modo que menospreza seu poder de fazer uma escolha racional. Coagir alguém ou mentir-lhe, não lhe permitindo fazer uma escolha bem fundamentada, são exelentes exemplos.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Platão e as ideias

O legado de Platão

A filosofia de Platão teve enorme impacto na cultura ocidental, em particular sobre o pensamento cristão. Considere, por exemplo, a ideia do bem. Ela se assemelha muito à concepção cristã moderna de Deus. Isso não é mera coincidência. Filósofos como Santo Agostinho adotaram e adaptaram ideias platônicas, mesclando-as fortemente com a tradição filosófica cristã. 

Um pensador cristão do século XX fortemente influenciado por Platão foi C.S Lewis, autor de O leão, a feiticeira e o guarda roupa  e das outras crônicas de Nárnia. Lewis chamou nosso mundo Terra das Sombras - uma referência direta à alegoria da caverna. Como Platão, ele acreditava que nosso mundo é essencialmente ilusório: o mundo real é aquele para onde vão nossas almas quando morremos. Para Lewis, a ideia cristã de vida após a morte e o reino das ideias de Platão se fundem.

Hoje, poucos filósofos abraçam a teoria das ideias de Platão. Mas as questões que ele formulou e os métodos que usou para tentar respondê-las continuam a dominar a tradição filosófica ocidental.
"Está tudo em Platão, tudo em Platão:ora, o que é que eles lhes ensinam nessas escolas"
Digory, em A última batalha, de C.S Lewis, cujo reino idealizado de Nárnia situa-se além do que chamou de Terra das Sombras da existência diária. 


quinta-feira, 2 de abril de 2015

Deus está morto, e foi você quem matou

 Subvertendo os valores


As primeiras preocupações filosóficas de Nietzsche foram fruto de seu envolvimento com a visão ateia de Schopenhauer de um mundo governado por forças irracionais e caracterizada pela ambição e pelo sofrimento. Mas Nietzsche rejeitou essa reação pessimista de Schopenhauer a esta condição e afirmou que as pessoas haviam perdido a fé na ordem divina que sustentava seu sistema tradicional de valores.

Todo o projeto filosófico de Nietzsche pode ser visto como uma tentativa de encontrar uma via de escape ao mal estar provocado pela morte de Deus. É em Além do bem e do mal e Sobre a genealogia da moral que ele desenvolve suas críticas mais conhecidas dos valores judaico-cristãos que esperava superar.

Segundo suas análises, o que normalmente consideramos "bom" é na verdade uma valorização da condição dos fracos. A negação cristã das diferenças entre os seres humanos, sua pretensa humildade, seu amor universal, sua rejeição das paixões físicas de um mundo pecaminoso, tudo advém de uma rejeição ressentida dos valores afirmativos de um tipo nobre e mais elevado de ser humano. É preciso resistir à tentativa dessa moralidade escrava de domar  fera dentro de nós, para  que valores nobres, com sua expressão ousada de força e poder, possam ser revitalizados. Disso surge o  grande desafio de Nietzsche à humanidade e o grande remédio para o niilismo:sua visão do "Super-homem", uma nova estirpe de homens que transformaria os valores estabelecidos. 
Quando seu personagem Zaratustra diz que Deus está morto, não apenas lançou um ataque contra a religião, mas fez algo muito mais audacioso."Deus" aqui não significa apenas o deus sobre o qual os filósofos falam ou para o qual os religiosos rezam: ele significa a soma total dos valores mais elevados que podemos ter. A morte de Deus não é apenas a morte de uma deidade. É também a morte de todos os valores ditos elevados que herdamos.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

O mal gera o mal?

 A falácia genética

Ovos têm cascas duras. Frangos vêm de ovos. Logo frangos têm cascas duras. Como alguém sensato pode cometer falácia genética? Contudo, o filósofo Friedrich Nietzsche foi acusado de fazer exatamente isso. O argumento de Nietzsche contra a moral cristã moderna é que ela tem raízes na "moral escrava" da Roma antiga, nascida do ressentimento dos escravos contra os seus donos. Os escravos, de fato, inverteram os valores de seus senhores, tornando a fraqueza "boa", o ethos guerreiro de seus senhores "mau" etc. Mas mesmo que Nietzsche esteja certo, isso invalida necessariamente a moral cristã? Nietzsche parece supor que, ao mostrar um defeito na origem de uma coisa, invalida a própria coisa. Mas esse costuma ser um raciocínio falacioso.


Para entender a falácia genética, supõe-se que uma coisa, B, tem origem em outra coisa, A, todas as propriedades possuídas por A provavelmente também são possuídas por B. Se uma pessoa o incentiva a crer que, se uma coisa teve origem em algo mal (ou bom), essa coisa deve ser ela própria má (ou boa), sempre vale a pena examinar mais de perto seu 

raciocínio ela pode estar cometendo uma falácia genética. 
Cometemos a falácia genética ao ficarmos chocados por Luke Skywalker ser tão corajoso e bom quando seu pai Darth Vader é tão mal?

segunda-feira, 30 de março de 2015

O que há por trás da "ordem e progresso"?

Comte e o lema brasileiro


Sem ordem não há progresso, afirmava Augusto Comte quando quis aplicar aos problemas sociais a mesma causalidade das ciências naturais. Mas como se daria essa ordem? Primeiro levaria em conta o estudo das ciências sociais como um estudo em particular da ciência ou física social( denominado sociologia), ele acreditava que assim como a física natural se constrói em torno do conceito de gravitação, também considerava que a sociedade deveria se organizar por meio do conceito de ordem, pois só assim é que poderia haver progresso.


Fundado no Positivismo, Comte afirmava que a humanidade passou por três estágios de evolução em sua relação social com o mundo, que são o estado teológico (o ser humano explica os fenômenos da natureza como resultado de forças divinas e sobrenaturais);estado metafísico (os deuses e forças sobrenaturais são substituídos por forças abstratas) e o estado positivo ( onde os fatos e fenômenos são explicados racionalmente pela causalidade, estabelecendo a relação natural entre eles). Esses estágios aplicados aos indivíduos são os que vivenciamos ao longo da vida: quando crianças, tendemos a acreditar em explicações mitológicas e religiosas;  crescemos um pouco e passamos a preferir explicação de cunho filosófico;  mas somente na fase madura da idade adulta é que estamos preparados para ver o mundo por meio da ciência. Essa relação entre a ciência natural e o ser humano,levou Comte sistematizar o indivíduo social aplicado à ciência,já que nela o estudo é mais organizado, concreto e racional.


Em 1847, os pensadores positivistas alteraram seu lema para: "O amor como princípio, a ordem como base, o progresso como fim". Dai surge a influência do positivismo para o lema" Ordem e Progresso" presente na bandeira do Brasil. Várias tentativas  de incluir a palavra "amor" em nossa bandeira já foram feitas. A mais recente, pelo deputado Chico Alencar (PSOL-RJ).

sexta-feira, 27 de março de 2015

BLOG CAFÉ COM FILOSOFIA

Olá queridos aficcionados pelo saber, este blog foi criado para dar extensão à página Café com filosofia do facebook. Neste blog irei publicar de forma mais ampla e detalhada, obras de grandes nomes ( e pouco conhecidos) da filosofia ocidental. Sou apenas uma estudante da graduação de filosofia, não tenho um conhecimento muito aprofundado sobre esse infinito  universo filósofico, mas tentarei suscitar o que melhor pude fazer até hoje: aprender. Espero que gostem desse projeto e que seja útil para todos, em breve começarei as publicações semanais, e conto com a ajuda de vocês para seguirem, lerem e compartilharem essas ideias.  Até breve! Link da página pra quem ainda não conhece:Café com Filosofia