O filósofo e pensador político inglês Jeremy Bentham foi chamado de o moderno pai do utilitarismo. Ele defendeu o " princípio da maior felicidade", segundo o qual uma ação é correta se, e somente se, conduz o maior número de pessoas à felicidade maior. Assim, as ações não são julgadas " em si mesmas", mas em termos de suas consequências; por exemplo, um mentira que maximizasse a felicidade seria moralmente boa. Bentham afirmou também a felicidade é apenas prazer e ausência de dor, e que o montante total de felicidade produzido por uma ação é a soma total dos prazeres menos a soma total da dor de todos.
Comentando essa teoria, John Stuart Mill afirmou que a felicidade é mais complexa do que Bentham pensava. Prazeres e dores não são todos igualmente importantes; há tipos de prazer "superiores" a outros e mais importantes pra a felicidade humana. Se todos comparam dois prazeres e concordam que o primeiro é "mais desejável e valioso" que o segundo, o primeiro é um prazer "superior". Para que um prazer seja mais valioso, as pessoas têm de preferi-lo, ainda que ele traga mais dor.
Critério superior
Desde que nossas necessidades básicas estejam atendidas, pensava Mill, as pessoas ainda preferem o amor a um delicioso jantar. Não é uma questão de quantidade, mas de qualidade do prazer. Felicidade é diferente de contentamento e satisfação.
As pessoas muitas vezes se opõem ao utilistarismo argumentando que não podemos prever as consequências de uma ação para saber se ela maximiza a felicidade ou não. Mas podemos responder facilmente que uma ação é correta se podemos esperar, com sensatez, que ela maximize a felicidade. Mill acreditava que temos uma boa ação disso com base nas normas morais que herdamos que que se desenvolveram à medida que as pessoas descobriram que ações tendem a gerar felicidade. Mentir e roubar não o fazem; cumprir promessas e ser bondoso, sim.
"Antes ser um homem insatisfeito que um porco satisfeito."- John Stuart Mill, Sobre o utilistarismo.
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Para Mill, a felicidade depende , em parte, da qualidade de nossos prazeres . Um homem tem prazeres mais valiosos que um porco. |
Atos de maldade?
Um problema sério do utilitarismo é não excluir nenhum tipo de ação. Se torturar uma criança produz a maior felicidade, então é certo torturá-la. Suponha que um grupo de homens que abusam de crianças busca e tortura apenas abandonadas. Somente as crianças que sofrem dor ( ninguém mais sabe de suas atividades), mas os torturadores obtêm grande felicidade. Como há mais felicidade torturando-se a criança do que não, a ação é moralmente certa. Ora, isso é claramente inaceitável.
Utilitaristas podem responder que é muito provável que alguém descubra, o que deixaria muitas pessoas infelizes. Mas não é o fato de outras pessoas descobrirem que torna a tortura de criança errada. O ato é moralmente mau em si, podemos argumentar.
Ao que parece, como a felicidade nem sempre é boa, a moral não pode se fundamentar inteiramente na promoção da felicidade. Ademais, como estamos visando apenas maximizar a felicidade, sua distribuição - quem fica feliz e em que medida - é irrelevante. Isso não contribui para a justiça.
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O Utilitarismo é muitas vezes acusado de ignorar a questão da justiça. A maior felicidade não envolve necessariamente sua justa distribuição, nem atende às necessidades da minoria vulnerável. |
Necessidades individuais
Por fim, o utilitarismo não considera a relação especial que temos com nossas ações e nossas vidas.Na sociedade utilitária, minha felicidade não conta mais que a de qualquer outra pessoa quando considero o que fazer. Obviamente, sou afetado mais vezes e mais profundamente por minhas ações do que outras pessoas - nada mais. As ações que pratico durante minha vida são apenas um meio de gerar a maior felicidade global. Isso é questionável. Não só ignora a ênfase natural que damos a nosso próprio bem-estar e ao dos que nos são próximos, como torna a moral exigente demais. Cada vez que compro um DVD, por exemplo, poderia ter dado o dinheiro para uma obra de caridade. Isso criaria mais felicidade, pois mais pessoas precisam de comida que eu de música. Mas como haverá sempre pessoas em terrível pobreza, nunca estarei certo ao fazer algo apenas para mim mesmo se tiver mais do que o mínimo necessário para subsistir.
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Gostar de crueldade, como o imperador romano Calígula, é mau- não só porque os outros sofrem, mas porque é errado "em si mesmo". |
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